quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Feitos um para o outro

Algumas coisas combinam tão bem, que é difícil imaginar um sem o outro. Assim são Harry e Sally, arroz e feijão e também a mistura de cerveja com qualquer coisa bem fritinha.

Mas se essa "qualquer coisa" não for tão "qualquer" assim, a cerveja então deve manter o padrão e também não ser "qualquer" cerveja.

A fritura escolhida para a ocasião foi o pastel de angu, que o Olivier Anquier mostrou em seu programa há algumas semanas, enquanto a dona da receita jogava muito charme para cima do chef.

O pastel de angu foi criado lá pela metade do século XIX, pelos escravos. Era uma forma de aproveitarem as sobras de angu. O recheio tradicional era um guisado de umbigo de banana, já que carne não era um ingrediente dos mais abundantes na senzala. Mas, às vezes, as escravas que trabalhavam nas cozinhas conseguiam esconder alguns pedaços de carne no angu. E os pastéis eram assados em fornos de cupinzeiros.

Ao ver a receita e a vontade com que o Anquier os devorava me enchi de vontade e fui correndo pro batuque na cozinha.

A massa é sensacional e rápida de fazer.

Em uma panela coloque 2 copos de caldo de carne (400ml), 2 copos de fubá peneirado e 2 colheres (sopa) de óleo (usei azeite). Em fogo médio misture sempre até desgrudar do fundo da panela.

Tire do fogo e acrescente 1/2 copo de polvilho azedo peneirado. Sove a massa ainda quente, adicione um ovo e continue sovandoa até que fique uniforme e lisa.

De recheio seguimos a sugestão preparada no programa do Anquier: couve com bacon.

Bacon em cubos bem fritinhos, até ficar crocante. Reserve.

Tempere 1 maço de couve (picada bem fina) com salsiha, cebolinha, 1 cebola picada, 2 tomates também picados, sal e pimenta do reino. Misture tudo e junte o bacon.

Passe manteiga nas mãos para trabalhar a massa.


Na hora de fritar coloque os pasteizinhos no óleo e não mexa. Espere desgrudar do fundo da panela sozinho. É bem parecido com fritar polenta, mas é mais fácil.

Como disse, uma receita cheia de história e tradição deve ser acompanhada com uma cerveja a altura.

Neste caso uma cerveja especialíssima, a La Trappe Blond, cheia de história e tradição e que ficou ainda mais especial, já que foi um presente de aniversário da minha querida amiga Liane.

A La trappe é uma cerveja trapista, ou seja, é produzida dentro de um monastério Trapista. Existem 171 desses monastérios, apenas 7 produzem cerveja e são autorizados a marcar seus produtos com o selo de autenticidade, entre estes apenas 1 não está na Bélgica.

Justamente, neste único monastério holandês que a La Trappe é produzida desde 1884. Haja tradição, só alguns aninhos mais nova do que a receita do pastel de angu.

Quer saber o que esses monges fazem de tão especial? Esperam!

O método é marcado pela paciência com que a cerveja é produzida. É uma cerveja Ale (de alta fermentação), que sofre uma refermentação na garrafa e possui aroma único.

Atualmente os monges já não trabalham mais na produção, mas acompanham de perto todo o processo e são os proprietários da marca registrada La Trappe.

Bom, se o tema aqui é história... O monastério “Onze Lieve Vrouw van Koningshoeven” foi fundado em 1881, por uma ordem trapista refugiada da França, para conseguirem se manter, os monges começaram a recuperar e cultivar a terra, mas tornou-se logo evidente que os lucros não seriam suficientes e uma solução teve que ser encontrada. Foi quando o monge superior Nivard Schweykart decidiu produzir cerveja.


Para melhor aproveitar sua trapista blond sirva lentamente em uma taça de vidro de boca larga. Segure o copo a 45° até terminar de servir para controlar o colarinho. E é importante lembrar, que a temperatura ideal para consumí-la é entre 12 e 16º C, quando ela está trincando perde aroma e sabor. Aí ficará difícil apreciar sua refrescância, seu paladar frutado e leve amargor ou mesmo perceber a duração e intensidade de sua espuma.

Hora de fazer o brinde e provar os pastéis.


Se a massa é ótima para trabalhar é ainda melhor para comer. Crocante, saborosa e sequinha. Já o recheio de couve...

Não sei... Esta massa pedia um recheio mais forte, mais úmido. Calabresa com requeijão, carne seca com queijo... a couve com bacon deixou um pouco a desejar além de ser chatinho trabalhar com a couve no recheio (sempre sobra um verdinho para fora do pastel graças à minha inabilidade).

Com certeza essa massa será repetida, mas nas próximas vezes com recheios mais ousados.

Pastel de angu e cerveja trapista são meu novo Harry & Sally, casaram perfeitamente e não teria como ficar melhor. Teria?

Claro, para isto basta que este seja o cardápio de um primeiro dia de tão esperadas férias.

Um viva ao dolce far niente.

Dica 1: A amiga Bianca, fonte de inspiração inesgotável, escreve o blog bbgourmet. Muito legal para as mamães preocupadas com a alimentação dos bebês desde a gestação, principalmente para as que sabem que experimentar é fundamental. Sim, a gastronomia começa na barriga da mãe... Fica a dica para quem quiser se inspirar, assim como nós.

Dica 2: Segunda dica, agora para quem já não é mais criança e adora um bom vinho. O amigo Marcelo Gava está com uma nova loja virtual de vinhos, a La Vita Vinhos. Além de comprar pela loja pode-se aprender um pouco mais sobre esta arte no blog.

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