quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Um dois, feijão com arroz...

Era uma vez um português chamado Pedro Alvares Cabral. Ele viajava o mundo inteiro se aventurando em busca de especiarias. Pois é, muitos se aventuraram pelo Atlântico atrás de cravo, canela, curry, louro... A gastronomia impulsionando o desenvolvimento do velho mundo.

Um belo dia, um equívoco fez o Pedrinho e sua trupe chegarem ao Brasil. Os anos passaram a terra foi colonizada e muitos foram trazidos para cá para trabalharem em regime de escravidão nas lavouras de cana-de-açúcar.

Esses trabalhadores precisavam se alimentar de forma barata para seus senhores, mas ao mesmo tempo, saudável e nutritiva para que suportassem o trabalho com força e destreza.

Foi aí que alguém misturou o arroz trazido da Ásia com o feijão já cultivado e consumido pelos índios daqui e assim surgiu a dupla mais famosa do Brasil. São fontes ricas de carboidratos, proteínas, sais minerais, vitaminas e fibras. O que falta em um, encontra-se no outro e assim provam que nasceram realmente um para o outro. Afinal eles se completam!

Para deixar o arroz com feijão ainda mais rico, basta fazer uma festa no prato e chamar vegetais e proteína. Uma refeição realmente completa e saborosa.

Hoje vou passar uma receitinha clássica de arroz com feijão, brócolis, caravelas de rúcula e franguinho na panela. Simples, básico e tão essencial quanto as especiarias.

Vou começar pelos petiscos, porque petiscar é tudo de bom. Uma entradinha rápida e gostosa que pode muito bem acompanhar os preparativos da refeição.

No processador faça um paté com um maço de rúcula lavada, uma cebola, azeite, sal, um punhado generoso de queijo parmesão ralado, outro de castanhas de caju e aos poucos acrescente requeijão cremoso para obter a consistência desejada.

Sirva nas barquinhas que podem ser compradas em qualquer casa de festa e para fazer as velas, tomate. Se quiser batize suas embarcações, Santa Maria, Pinta e Nina não são nomes criativos, mas podem ser bastante espirituosos.


E se já estamos petiscando enquanto as panelas estão no fogo não podemos deixar de bebericar. Uma bebida especialmente escolhida para a ocasião tão ufanista. Uma cerveja feita com um fruto famosíssimo e que é originário da Amazonia: o guaraná.

Cerveja esta que foi presente da amiga Vivi, companheira sempre bem vinda para a degustação de muitas cervejas.

A Divina acompanhou bem o espiríto deste dia, seu nome imediatamente me remeteu às divindades indígenas, africanas entre tantas outras de tantas culturas que aos poucos se enraizaram tão bem nesta terra de múltiplas crenças.

Seu sabor possui um amargor residual interessante, que torna impossível esquecer o malte. O aroma é marcante e floral por ser elaborada com o artesanal processo Dry Hopping, ou seja, é adicionado lúpulo na cerveja após a fervura e o intuito deste processo é justamente realçar o aroma. Nada é a toa nesta vida.

A coloração é intensa e a espuma persistente. Refrescante como pede o clima tropical, para mim a sua melhor definição é ser brasileiríssima, pois expressa bem os sabores da terra, mesmo com um primeiro nome tão complicado: Göttlich. Obrigada Vivi!


Mas 10 entre 10 brasileiros preferem feijão, e é por ele que irei finalmente começar o prato principal. Existem diversos tipos de feijão, cada um com uma característica peculiar e todos merecem ser provados e bem preparados. Neste dia escolhemos o feijão jalo. Aquele feijão grandão, meio amarelado e que forma um caldo encorpado e avermelhado.

Quando o feijão é novo ele cozinha rápido, só os mais velhinhos é que exigem muito tempo de molho e pressão. Neste caso, como o feijão era de boa procedência 30 minutos de molho, na panela de pressão cobrir de água (não usamos a água em que ele estava de molho) em apenas 15 minutos e já estava macio na medida certa. Coloquei um pedacinho do couro do bacon para saborizar durante o cozimento e uma colher (chá) de sal. Depois de cozido é hora de apurar e temperar o feijão.

Em uma panela coloque azeite, alho e cebola bem picados e refogue bem. Nesta hora bacon picado ou finas rodelas de linguiça calabresa também são muito bem vindos. Depois da refoga acrescente o feijão com a água do cozimento. Deixe apurar, acrescente orégano, um toque de pimenta, corrija o sal e deixe o caldo engrossar. Mexa de vez em quando e coloque mais água caso veja necessidade.

Mais fácil que fazer feijão só mesmo fazer arroz. Arroz branquinho e soltinho segue sempre a mesma básica proporção: 1 xícara de arroz para duas de água. Coloque no fogo a chaleirinha e ferva a água. Enquanto isso, em uma panela refogue cebola em azeite ou óleo (vai da preferência de cada um), coloque o arroz e frite um pouco, acrescente sal a gosto e junte a água fervente. Deixe a panela semi tampada e o fogo o mais baixo que puder. Quando estiver seco, está pronto.

Dupla da melhor qualidade, de simplicidade ímpar e cheia de nuances de sabor.


O colorido do prato ficou por conta do brócolis. Limpe o brócolis com cuidado, tente tirar bem toda a parte esbranquiçada dos caules, essa primeira "camada" externa é o que pode deixá-lo duro quando mal tirada. Sim, é preciso um pouco de paciência, mas vale a pena.

Uma panela com água e sal no fogo. Quando ferver acrescente a verdura e conte uns 5 minutos. Prove para saber se está no ponto e escorra a água. Gosto muito de serví-lo com uma refoga de azeite e alho por cima. Mas se servido só com sal e azeite já é tudo de bom.

A última receita é de frango de panela. Essa é sem dúvida a especialidade aqui de casa.

Tempere as coxinhas da asa com sal, alho, pimenta do reino, azeite e vinho branco, deixe marinar por umas 2horas. Na panela de ferro, frite uma pequena porção de bacon em cubinhos miudos. Coloque as coxinhas e deixe até ficarem bem douradas, acrescente uma cebola em finas fatias meia lua e frite bem.

Um pouco de conhaque e fogo para flambar. O suco de uma laranja para raspar todo o tempero da panela, uma porção de alcaparras picadas e é hora de colocar tomate picado sem pele, uns 2 são suficientes, pois irei acrescentar meia lata de tomates pelados. Os tomates pelados são uma excelente opção para substituir molhos de tomate prontos. Eles já são adocicados e bem maduros, dissolvem rápido na panela formando um molho bonito e pouco ácido em pouco tempo.

Deixe o molho apurar e o frango cozinhar até ficar bem macio. Se necessário vá pingando água aos poucos para auxiliar o cozimento.

Aproveite o aroma da cozinha e finalize corrigindo o sal e acrescentando uma generosa quantidade de salsa e cebolinha.


Não esqueça da farinha de mandioca torrada sobre o feijão e de deixar o molhinho de pimenta na mesa. São peças fundamentais na composição do prato.

Comidinha com sabor de casa, de mãe, de família. Aconchegante e acolhedora. Sabores que nos fazem chegar à conclusão que vale a pena se arriscar, até mesmo enfrentando bravios oceanos só pelo prazer de uma refeição bem temperada. Parece que o Pedrinho tinha mesmo razão. Ora pois.

Um comentário:

  1. Post muuuuuito espirituoso, gostei ; )

    Esse franguinho e esse arroz com feijão eu conheço bem!

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